A Economia da Era Michel Temer: Desafios e Projeções

Com a cassação do mandato de Dilma Roussef, no dia 31 de agosto, assume como Presidente da República o até então presidente interino Michel Temer. No mesmo dia ocorreu sua primeira reunião ministerial, onde Temer defendeu a intenção e necessidade de “unir o País e colocar os interesses nacionais acima dos interesses dos grupos”. O novo presidente possui a intenção de dar fim ao recesso e aquecer novamente a economia. Todavia, o prazo é curto. O novo presidente terá apenas até final de 2018 para tentar estabilizar a economia do país, onde deverá ter como foco a superação da crise fiscal e o reajuste da inflação. O objetivo é que, depois de estabilizada a economia, possa iniciar uma reavaliação para a ação estatal na economia, um fortalecimento das instituições, uma abertura comercial e um avanço dos indicadores sociais.

O que deu errado no governo Dilma?
A ex-presidente Dilma recebeu um governo equilibrado das mãos do ex-presidente Lula, porém aceitou propostas que transformaram uma economia estabilizada, que rumava ao crescimento, na pior recessão da história. A ex-presidente acreditava que a movimentação do mercado financeiro era neutra para a economia do país, porém esta afeta as condições no mercado de créditos e capitais, influenciando diretamente a economia, o que acabou abalando a situação financeira de empresas e famílias.
Reelegeu-se em 2014 passando ao eleitor brasileiro a ilusão de que não havia crise econômica no Brasil, de que em seu governo já havia sido realizada inúmeras conquistas e prometendo a volta do crescimento econômico. Porém, desde o início de seu segundo mandato não houve um trimestre sequer que os índices não apresentassem recesso econômico.
Após Dilma ser afastada do cargo, há aproximadamente três meses, as expectativas dos empresários já haviam melhorado. O dólar caiu 22%, a bolsa valorizou 34% e os juros foram reduzidos. Porém a situação atual ainda é de quase 12 milhões de desempregados, um déficit de mais de R$ 170 bilhões na conta pública e uma retração do PIB de 4,6% no primeiro semestre desse ano.

Elaboração própria. Fonte: Sistema Gerenciador de Séries Temporais - BACEN


Desafios do Governo Temer
Diante do cenário fica evidente que o novo presidente necessitará de ações práticas e imediatas para acelerar novamente a economia e eliminar o risco de estagnação econômica nos próximos anos. A economia está fragilizada e isso é, em grande parte, resultado do desequilíbrio das contas públicas, da inflação acima do teto, de uma recessão profunda e um desemprego avassalador. O IBGE divulgou a sexta contração consecutiva do PIB, a maior da série histórica, e um tombo acumulado de 4,9% nos 12 meses até julho. O Banco Central divulgou no último dia 31 déficit primário de R$ 12,8 bilhões em julho e um rombo de R$ 154 bilhões no período de um ano. A dívida bruta chegou a 69,5%.
Apesar do cenário de retração, a taxa de investimento tem indicado que a expectativa de empresários em relação ao futuro voltou a ser positiva – alta de 0,4%. Isso é resultado do crescimento, nos últimos 3 meses,  dos índices de confiança em diversos setores. Com esta melhora, a expectativa de empresários e investidores em relação ao futuro voltou a ser positiva. Estes, por sua vez, tem depositado confiança no atual Presidente Temer por acreditarem em sua capacidade de articulação política, além de reconhecerem a competência da equipe econômica que o auxilia.

Formação Bruta de Capital Fixo – Governo Dilma

A demonstração gráfica apresenta que a taxa FBCF que estava em constante elevação, começou a declinar a partir do quarto trimestre de 2012 e assim permaneceu por quase três anos com poucos períodos isolados de irrisória elevação. Porém, percebeu-se no último trimestre desse ano (Abril-Junho) uma pequena alta nos investimentos resultantes da melhora nas expectativas.

Porém o otimismo está mais fundamentado sobre essas expectativas do que sobre os resultados de fato. A fim de melhorar os indicadores com grande peso para a economia do país, como o setor de serviços e consumo, Temer deverá tomar certas medidas, como por exemplo: criação de postos de trabalho, redução da inflação e disponibilizar mais crédito para as famílias, com o intuito de aumentar a renda e estimular o consumo. Além disso, Temer já possui propostas de reformas em três áreas: fiscal, previdenciária e trabalhista.

A Reforma Previdenciária
O governo aposta na reforma da Previdência como um dos seus principais legados, e pretende mexer em temas polêmicos, como a implementação de uma idade mínima para aposentadoria. Embora a proposta esteja pronta, deve ser enviada ao Congresso somente depois das eleições municipais.
A necessidade da reforma se dá pela necessidade de o governo continuar garantindo o pagamento das aposentadorias. Sem modificações em poucos anos não seria possível pagar os aposentados. Após aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, Temer fez um breve pronunciamento, onde em um trecho disse:
"Nosso objetivo é garantir um sistema de aposentadorias pagas em dia, sem calotes e sem truques. Um sistema que proteja os idosos, sem punir os mais jovens".
O governo propõe idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres, tanto de servidores públicos quanto os da iniciativa privada. A nova regra valeria para os trabalhadores com menos de 50 anos. Quem tem mais de 50 permaneceria na regra atual. Apenas teria que pagar um pedágio proporcional ao tempo que falta para a aposentadoria. Para mulheres e professores a idade de transição já seria 45 anos de idade. O tempo de contribuição só teria peso para o valor do benefício.

A Reforma Trabalhista
Esta possui como objetivos aprimorar as regras de terceirização e dar mais força às negociações coletivas entre empregados e patrões. O pensamento é acertar a legislação para contratos de trabalho parciais e intermitentes, com jornadas inferiores a 44 horas semanais – férias e 13º calculados de forma proporcional. Existiria, de acordo com o presidente, a necessidade de modernizar a legislação para garantir os empregos atuais e gerar novos.
De acordo com o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, o Executivo estaria tentando transformar a CLT em um uma legislação "simplificada e clara", porém, sem retirar os "direitos básicos" dos trabalhadores. O governo não permitiria, por exemplo, o parcelamento das férias e do décimo-terceiro salário. Através da reforma, a negociação coletiva para tratar de temas como salário e tamanho da jornada de trabalho poderão ser pontos flexíveis da CLT.
Sobre a terceirização, o ministro do Trabalho informou que a proposta do governo contemplará a regulamentação de contratos de "serviço especializado". Atualmente as empresas apenas podem subcontratar serviços para o cumprimento das chamadas atividades-meio, mas não atividades-fim.
Existe também a intenção do governo em tornar permanente o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) que permite tanto da redução da jornada de trabalho quanto dos salários de funcionários em empresas com dificuldades financeiras para evitar demissões.
Quanto ao Seguro-Desemprego, de acordo com o Ministério do Trabalho, o governo teria a intenção de passar um “pente-fino” sobre os beneficiários para evitar fraudes, assim como já tem feito com o auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez.

A Reforma Fiscal
Este ano a dívida pública alcançou recorde em junho, chegando a 68,5% do PIB e pode alcançar 70% até o fim do ano. Em conformidade com a tentativa de cortes de gastos, assim que assumiu como presidente interino, Temer reduziu o número de ministérios e anunciou seu pacote de medidas que tem como objetivo aliviar a pressão dos gastos sobre o rombo orçamentário.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) tem como objetivo limitar o teto dos gatos do governo à correção da inflação do ano anterior pelas próximas duas décadas. O dinheiro economizado será canalizado para pagamento dos juros e do principal da dívida pública. A proposta é interessante, pois, os gastos públicos nunca foram limitados e a intenção dessa lei é, justamente, gastar apenas o dinheiro que se arrecada. Além disso, tem-se o objetivo de dar fim ao Fundo Soberano, que tem cerca de 2 bilhões de reais em caixa. A maior dificuldade do PEC está sendo convencer parlamentares de que não haverá redução de recursos para saúde e educação, embora estas também não poderão superar o gasto do ano anterior com a correção da inflação.
Quantos às despesas com pessoal, a PEC repercutiria na proibição de reajuste salarial, na criação de novos cargos ou funções, na reestruturação de carreira, na realização de concursos públicos.
Economistas que criticam a reforma defendem que não é possível realizar um efetivo ajuste fiscal olhando apenas pelo ângulo da despesa, sem aumentar impostos. Seria necessário que o Brasil também passasse por uma reforma tributária.


Expectativas para o Mercado

Órgãos / Empresas Privadas
       PREVISÃO PIB
PREVISÃO INFLAÇÃO
2016
2017
2016
2017
FMI (julho)
-3,30%
0,50%


Banco do Brasil (02/09)
-3,20%
1,30%
7,34%
5,12%
Bradesco (19/08)
-3,00%
1,50%
7,15%
5,04%
Itaú (agosto)
-3,50%
1,00%
7,80%
4,20%
Elaboração própria. Dados coletados das respectivas fontes.

Pode-se observar nos dados apresentados que o Banco Itaú seria o que estima o cenário mais pessimista para o PIB com retração de 3,5 para 2016 e um crescimento de apenas 1% para 2017 ficando à frente apenas do FMI, que estima um crescimento de apenas 0,5% para 2017. O cenário mais otimista é o estimado pelo Banco Bradesco.
O destaque negativo observado pelo BC é a piora das projeções para o PIB do setor agrícola. A estimativa passou de uma alta de 0,2% para um recuo de 1,1%.
Quanto à inflação, o banco Itaú estima o cenário mais pessimista para 2016, 7,8%, mas em compensação uma inflação de apenas 4,2% para 2017.


Influências sobre Mato Grosso do Sul

Correlações:
ICMS-MS
RCL-MS
PIB
98,21%
95,70%
IPCA – Índice
96,90%
95,44%
Elaboração própria. Fontes: PIB: SGS – Sistema Gerenciador de Séries Temporais; IPCA – Índice: Ipeadata

         Tanto o ICMS de Mato Grosso do Sul quanto as Receitas Correntes Líquidas possuem fortíssima correlação com o PIB e o IPCA – Índice (indicadores nacionais), sendo todas em acima de 95%. Isso significa que toda e qualquer alteração no PIB ou na inflação influenciam fortemente as arrecadações do estado. Consequentemente, melhores previsões para esses índices no país significam que melhores serão as arrecadações do estado de MS.

Acompanhamento das Receitas de Mato Grosso do Sul em 2016

ICMS – Incremento
Mês
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
CENTRO-OESTE
BRASIL
2016/2015
Jan/16
1,61%
17,54%
15,63%
7,47%
-10,25%
-6,52%
Fev/16
13,10%
10,75%
-5,12%
8,31%
-17,91%
-6,81%
Mar/16
11,44%
16,69%
9,20%
0,54%
-14,01%
-3,54%
Abr/16
6,72%
6,31%
5,01%
11,52%
-15,50%
-9,35%
Mai/16
-0,49%
14,44%
4,38%
18,45%
-12,63%
1,19%
Jun/16
-2,00%
12,44%
6,92%
-10,00%
-17,09%
-11,38%
Jul/16
-0,18%*






ICMS (R$ mil)
Ano/Mês
Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
CENTRO-OESTE
BRASIL
2016
Jan/16
597.157
765.045
1.271.846
643.887
2.680.777
31.846.750
Fev/16
591.769
710.859
1.041.087
598.087
2.350.033
29.406.142
Mar/16
610.694
792.523
1.109.966
481.084
2.383.574
29.928.678
Abr/16
646.022
831.003
1.182.974
627.757
2.641.734
30.628.693
Mai/16
577.453
795.668
1.165.419
651.936
2.613.022
32.631.346
Jun/16
560.255
800.212
1.183.153
555.315
2.538.681
29.305.856
Jul/16
594.623*






Elaboração própria. Dados: RREO – SCGE (MS); COTEPE-CONFAZ (MT, GO, DF, CO, BR);
MS (Julho/2016): Portal Transparência - MS


RCL – Incremento
Mato Grosso do Sul
Mês
RCL (2016)
Incremento (%)
2015 / 2016
Jan/16
913.084.679,38
27,47%
Fev/16
645.849.846,93
2,34%
Mar/16
721.886.138,07
13,10%
Abr/16
805.219.810,36
19,26%
Mai/16
778.269.690,89
13,33%
Jun/16
740.240.622,65
9,14%

Elaboração própria. Dados: Relatórios Resumidos da Exec. Orçamentária – RREO – SCGE


Receitas e Despesas – AGEPREV
ANO
Receita AGEPREV
Incremento
Despesa AGEPREV
Incremento
Inflação (%)
2005
R$    142.964.641
R$    464.974.978
5,69
2006
R$    202.344.335
42%
R$    590.747.899
27%
3,14
2007
R$    626.728.663
210%
R$    651.111.034
10%
4,46
2008
R$    725.192.741
16%
R$    724.428.441
11%
5,90
2009
R$    851.571.074
17%
R$    866.148.290
20%
4,31
2010
R$    987.476.192
16%
R$    988.564.910
14%
5,91
2011
R$ 1.174.992.741
19%
R$ 1.126.575.827
14%
6,50
2012
R$ 1.289.563.520
10%
R$ 1.296.991.341
15%
5,84
2013
R$ 1.455.295.448
13%
R$ 1.483.097.295
14%
5,91
2014
R$ 1.750.951.956
20%
R$ 1.684.860.760
14%
6,41
2015
R$ 2.402.657.157
37%
R$ 2.090.891.389
24%
10,67
Elaboração Própria. Dados: Superintendência de Orçamento da SEGOV

AGEPREV-MS - Agência de Previdência Social de Mato Grosso do Sul.



Estudo Elaborado pelo Observatório Econômico / SINDIFISCAL – MS.

Equipe de Pesquisa:
Letícia Cavessana
Mateus Tortorelli
Rafael Aguiar

Clauber Aguiar - Diretor